Capítulo 86

[...]

Alguns dias se passaram e eu podia sentir a paz ao meu redor, sem Erica, sem Diogo, sem nada. Mas ainda tinha uma coisinha corroendo em mim, o fato de eu não ter contado nada a Luan não estava me deixando em paz. Então prometi a mim mesma que assim que nos encontrássemos pessoalmente eu contaria tudo e acabaria logo com tudo aquilo.

Naquele sábado, o show que ele faria tinha sido cancelado por conta das fortes chuvas no local, então, ele resolveu voltar a São Paulo. E enquanto Luan viajava de volta, nos falávamos por telefone combinando tudo, passaríamos a tarde juntos e a noite, sairíamos com sua “turma” para curtir um pouco.

Era início de tarde e eu já estava a sua espera em casa, morta de saudade depois de tantos dias sem vê-lo. Até que sinto a porta se abrir atrás de mim e vejo Penélope correr em direção a Luan que abaixou-se para fazer um carinho nela. Em fim, chegou e minha vez e eu pulei em seus braços, o cobrindo de beijos:

-Ai amor que saudade, foram muitos dias sem você voltar! – Choraminguei enquanto o abraçava forte.

-Muito trabalho, mas agora estamos juntos de novo, é isso que importa. – Ele me olhou nos olhos e me deu um selinho demorado.

-Sempre volta para mim. – Sorri.

-Para você. – Ele reforçou.

Só então reparei na caixinha que ele trazia nas mãos, sacudiu para mim e disse sorrindo:

-Não podia chegar com as mãos vazias.

-Chocolates. – Constatei assim que peguei a caixa.

-Acertei? – Ele arqueou a sobrancelha de um jeito lindo.

-Em cheio. Ah, eu te amo muito sabia? – E me enrosquei nele novamente lhe dando um longo beijo.

-Hum, acho que vou demorar mais para voltar, porque eu adorei essa recepção. – Ele brincou.

-Não brinque com isso, é horrível ficar muito tempo longe de você.

E depois de mais alguns beijos, fomos para o sofá comer os chocolates. Mas eu queria acabar logo com aquela agonia que estava instalada dentro de mim, depois de tantos dias, então decidi que quanto antes melhor. Respirei fundo e comecei:

-Tenho uma coisa para te contar. – Parei de comer nesse momento.

-É coisa séria? Porque essa cara já ta dizendo tudo. – Ele mudou o ar divertido para preocupado.

-É algo que talvez não te deixe muito contente. – Me encolhi.

-Ah não, já imagino o que seja. Mas vamos lá, quero ouvir de você. – Ele também largou dos chocolates e prestou total atenção em mim.

Mais uma vez puxei o fôlego e comecei a contar toda a história, desde meus planos até a execução deles, toda a conversa com Erica e da participação de Diogo nisso tudo, até finalizar:

-E parece mesmo que Erica estava falando a verdade porque desde então não tive mais noticias dela. – Falei tentando tirar o foco de Diogo.

Luan não tinha falado, perguntado ou questionado nada em nenhum momento, apenas me olhava, até que finalmente se manifestou:

-Nicolle, já percebeu que eu sempre sou o ultimo a saber do que se passa em sua vida? – Ele perguntou sereno, mas eu sabia que vinha chuva grossa por ai.

-Eu não queria te contar por telefone, você passou vários dias sem voltar, preferi esperar. – Expliquei.

-Eu te pedi tanto para se afastar do Diogo, tanto... E quando eu virei as costas, a primeira coisa que você fez foi procurá-lo.

-Luan, eu precisei! Se eu não tivesse feito tudo aquilo talvez Erica ainda estivesse tentando me matar. – Fiz gestos com as mãos.

-Sim, sim. Mas precisava ter feito tudo pelas minhas costas? – Ele começou a se exaltar.

-Se eu te contasse, você brigaria comigo.

-Nicolle, nos somos um casal, parceiros, companheiros. Acha justo esconder as coisas de mim? Não acha que isso é uma espécie de traição? – Ele perguntou indignado.

-Luan, você tem que entender que...

-Não! – Ele me interrompeu – Eu não tenho que entender nada. Você faz tudo pelas minhas costas, se eu te peço uma coisa, uma única coisa, você diz que vai fazer mas não faz. Poxa, eu te pedi, foi a única coisa que eu te pedi e você não pode me atender.

-Parece que você só escuta o que você quer não é mesmo? – Comecei a perder a paciência – Eu acabei de falar que depois de tudo eu e Diogo discutimos e eu nunca mais o vi. Ele saiu da minha vida, não era isso que você queria?

-Eu queria que você tivesse me contado tudo, desde o começo!

-Pra que? Pra você falar tudo que está falando agora, com esse ciúme idiota do Diogo, com essa intriga, essa birra que vocês tem um do outro?

-Era sua obrigação, independente de qualquer coisa! – Ele falou alto – Se eu só escuto o que eu quero, você só entende o que você quer. Como vou confiar em você agora Nicolle, me diz? Se você esconde tudo de mim, mente!

-Talvez eu não precisasse fazer tudo isso se não fosse por você! – Agora eu estava completamente nervosa.

-O que?

-É Luan, você! Você é o grande culpado de tudo isso, sabe porque? Porque foi você quem não finalizou direito a porcaria de relação que tinha com a Erica e ela ficou me odiando, querendo me matar, já pensou nisso? – Reverti todo o jogo.

-Não acredito que to ouvindo isso. – Ele balançou a cabeça negativamente.

-Pois acredite, porque essa é a verdade. Você me julga tanto, mas o primeiro grande erro foi seu!

-Então a culpa é minha? A culpa de tudo, é minha? – Ele parecia não acreditar em tudo aquilo – Tudo bem, acho que estraguei a sua vida não foi? Mas não se preocupe, talvez eu saia dela e você volte a viver em paz.

Ele disse isso com mágoa na voz e nos olhos, depois caminhou até a porta, então chamei:

-Luan, espera...

Mas ele não me deu ouvidos. E depois ele saiu, finalizando aquele momento tão tenso.

É, tínhamos brigado por causa dos defuntos que eu achava já ter enterrado completamente e encerrado aquele capítulo da vida para começar outro. E aos poucos, a minha fixa caiu do que eu tinha falado, do que realmente pesou naquela discussão, foi o fato de eu ter dito que a culpa de Erica me perseguir era de Luan – E não era? – Talvez eu não devesse ter dito aquilo, ele ficou magoado – Mas e eu? – Também não gostei das coisas que ouvi.

Mas o que foi feito, foi feito, foi dito e não tem como ser apagado, agora só restava esperar até a noite e tentar uma reconciliação.

O meu problema sempre foi esse, achar que tudo sempre estava certo quando feito do meu jeito. Mas parecia que a vida queria me mostrar através de Luan que as coisas não eram bem assim, e aquilo não pararia por ali. O fato é que agora eu estava sem ele, e com um mar de saudade guardado no peito.

...

Eu pedi, e não foi apenas uma vez. Mas parece que Nicolle não me leva a sério, não me respeita, nunca esta nem ai para o que eu penso. Talvez porque ela ache que eu sempre vou perdoar, sempre vai ficar tudo bem no final. Mas chega! Estou cansado disso, ela traiu minha confiança e isso é um erro grave. E além de tudo ainda disse que a culpa de Erica persegui-la é minha. – Talvez seja mesmo, assumo que errei com Erica – Mas não precisava ter usado aquelas palavras, naquele momento. Ela não se importou em me magoar, mas o fez e vai ser difícil de esquecer.

Então fui para casa, tomei um banho, esfriei a cabeça e tentei esquecer aquele assunto e aproveitar minha família. Sem saber que momentos de turbulência se aproximavam de nós.

...

A tarde se arrastou enquanto fiquei sozinha em casa pensando no que tinha acontecido, enquanto meu coração gritava dizendo que eu tinha que fazer alguma coisa, ligar, correr atrás, qualquer coisa, mas não podia perder o amor da minha vida por conta de uma bobagem.

Não era justo, logo agora, que eu tinha conseguido me livrar de Erica e Diogo, que ficássemos brigados, depois de tanto tempo separados, perdendo os momentos preciosos que podíamos ficar juntos.

Então quando a noite se aproximava, peguei o telefone e disquei seu número que chamou várias vezes e só depois disso ele atendeu:

-Alô. – Sua voz era ríspida, magoada.

-Oi... É, acho que precisamos conversar. – Falei sem jeito.

-Tem certeza que quer conversar com o cara que destruiu a sua vida? Foi isso que você disse não foi? Somente por minha culpa que a Erica te persegue. – Ele insistiu.

-Ai Luan, as vezes você é tão dramático. – Soltei sem querer.

-Dramático. – Ele deu um sorrisinho – Talvez ainda não seja hora de uma conversa.

-Você ta fazendo tempestade em como d’água. – Suspirei.

-Você só se esquece que o que é importante para uns não é tanto para outros. Acho que essa é nossa diferença. – Lembrei-me imediatamente de vó Amélia nesse momento, ela já tinha me dito algo do tipo.

-Ta bom Luan, eu tentei, você quem não quis. – Perdi a paciência novamente.

-Nicolle, você saiu com o Diogo, fez tudo aquilo pelas minhas costas e pra fechar ainda me culpou por conta da loucura da Erica e quer ter razão? – Ele falava incrédulo.

-Vamos esquecer isso amor... – Tentei, mas ele me interrompeu.

-Esquecer? Para você tudo é esquecer, acha que eu sempre vou perdoar, mas não é assim! Você não pensou em nenhum momento que me magoaria fazendo e dizendo tudo aquilo. – Ele parecia realmente ferido.

-Não quero discutir de novo com você. Depois conversamos.

E após dizer isso, desliguei, para evitar outra briga. Mas não se pode evitar o inevitável e eu teria a prova disso algumas horas depois.

Algumas lágrimas rolaram em meus olhos, será que o erro era mesmo todo meu? Por quanto tempo isso ia durar? Como uma discussão podia se tornar uma coisa tão grande? Talvez ele tivesse um pouco de razão, talvez não. O fato era que não seria tão fácil quanto eu pensava e agora eu teria de esperar o tempo dele.

Mais algumas horas se passaram e como combinado, os amigos de Luan passaram na casa dele na intenção de nos encontrar para sairmos todos juntos, mas ao chegarem lá, encontraram apenas Luan jogado no sofá, zapeando na TV:

-Que isso cara? Não ta pronto ainda? – Rober falou.

-Não vou mais. – Ele respondeu apenas isso.

-Porque? Cadê a Nic?

-Brigamos.

-Vixi. – Rober fez careta.

-Nada melhor para espairecer do que sair com os amigos, sem a namorada, como nos velhos tempos. – Well se manifestou.

Luan observou um pouco os amigos, pensou naquelas palavras e viu um fundo de razão nelas. Tudo que precisava naquele momento era espairecer, desanuviar de tudo aquilo, então não pensou duas vezes, se trocou e partiu para  a noite como “nos velhos tempos”, sem nem esperar o que aquilo renderia.

...

Enquanto isso eu estava em casa, não tentei ligar novamente para Luan, afinal, eu tinha meu orgulho. Mas nem imaginava o que ele estava realmente fazendo. Também não consegui dormir e aproveitei para escrever um pouco mais da história de Lorenzo e Cecília e tentar me distrair. Mas ai, me envolvi mais uma vez  entrei pela madrugada escrevendo e escrevendo sem parar.

Já Luan, se divertia em uma badalada casa noturna com seus amigos, mas tudo muito inocente, apesar das investidas das garotas ele estava apenas bebendo e dançando, nada demais. Porém, também estava sendo fotografado sem perceber e era ai que estava sua perdição.

Depois de algumas horas de escrita, o sono chegou e resolvi dormir, deixando as pendências com Luan para o dia seguinte, crente que ele me acordaria com uma visita pela manha depois de ter pensado muito em tudo e me traria um lindo girassol, nos beijaríamos e tudo ficaria bem de novo. E foi com essa imagem na cabeça que dormi.

...

Vazio. Era isso que eu estava sentindo naquele momento, naquela balada, sem Nicolle ao meu lado. Até tentei e talvez tenha conseguido me divertir um pouco e  esquecer a briga, mas foi momentâneo. Não fazia sentido ficar ali, então voltei para casa, tomei um banho quente e dormi, pensando nela, é claro.

...

No dia seguinte, parece que algo me fez acordar cedo, como se alguma coisa estivesse me chamando. Então levantei, alimentei Penélope e fiz um café forte para mim, depois sentei-me a mesa com o notebook a minha frente, disposta a checar meus emails como fazia sempre, mas em questão de segundos, apareceu em minha frente a enorme manchete estampada em todos os sites e jornais online:

“Luan Santana curte balada Paulista sem a Namorada”

“Na noite deste sábado, Luan Santana foi clicado em uma boate de luxo na grande São Paulo, mas o gato estava sozinho, sem sua Namorada, a Jornalista Nicolle Andrade. O rapaz dançou, se divertiu, fez tudo que tinha direito junto ao um grupo de amigos e atendeu aos admiradores de seu trabalho posando para fotos também.

Mas o que todo mundo quer saber é? Onde está Nicolle? Será que eles terminaram? O que realmente esta acontecendo?

O que nos resta é aguardar as respostas.”

Depois desse pequeno trecho, havia várias fotos de Luan sorrindo e se divertindo com os amigos e também com algumas garotas ao seu redor.

Uma palpitação me invadiu. Um misto de raiva, dor, tristeza. Ele não podia ter feito isso comigo, mesmo depois de toda aquela briga, ele não tinha esse direito.

[Continua]

Huum, 

as coisas não andam nada boas para o nosso casal...

Chato volta assim com briga depois de tanto tempo né?

Mas é preciso.

E aí?

Ansiosas para saber o que vem em seguida?

Mais tarde posto mais dois capítulos! ;)

Então, mereço comentários ou não?

Beijokas

Mayara

@FCAsCoelinhasLS