sábado, 26 de abril de 2014

Capítulo 87

Antes de começar eu OBRIGO vocês a lerem esse capítulo escutando essa música, combina direitinho, pra entrar no clima ;) 


“Acabar é uma coisa relativa, amor quando é amor não acaba. Mas talvez separados a gente descubra se foi amor." 
[...]

Quando finalmente dei por mim, já estava a frente da enorme casa de Luan, um pouco depois de 8:00 da manha.  Decidi ir até ele pois não conseguiria fazer mais nada da minha vida se não parássemos com toda aquela criancice e resolvêssemos tudo de uma vez, do jeito certo.
Por incrível que pareça os pais dele já estavam acordados tão cedo naquele domingo e foram eles que me receberam com a alegria e simpatia de sempre:
-Nicolle, por aqui tão cedo? Que surpresa, você quase nunca aparece. – Dona Marizete me abraçou.
-O tempo é curto. Mas preciso falar com Luan. – Sorri de canto.
-Esta dormindo, aliás, deve ter acabado de pegar no sono. Vocês estavam juntos ontem a noite?
-Não estávamos. Mas eu vou subir e acordá-lo se não se importa, é que preciso realmente falar com ele. – Me encolhi.
-Claro, se é tão sério... Tem certeza que não podemos ajudar?
-Tenho. Somente ele por me ajudar. Com licença.
E sem esticar mais conversa, subi. E a cada degrau, meu sangue fervia mais dentro de mim, eu estava sentindo tudo muito misturado, mas de uma coisa eu tinha certeza, aquela conversa não seria nada fácil.

Entrei no quarto dele e o vi dormindo tranqüilo – Tranqüilo demais – e incrivelmente lindo. Mas eu tinha que me concentrar no verdadeiro motivo de eu estar ali, então, sem mais delongas, o chamei sem nenhum cuidado:
-Luan! ... Luan, acorda!
Ele se mexeu, se espreguiçou e fez careta, mas alertou-se ao me ver em pé ali bem a sua frente:
-Nicolle?
-Surpreso? – Coloquei uma pitada de ironia – Como foi a balada ontem?

Luan demorou mais alguns segundos para digerir tudo aquilo, sentou-se, esfregou os olhos e em seguida me encarou:
-Ah, é isso. – Permaneci calada – Era para você ter ido também lembra? Mas..,
-Mas brigamos e por isso você foi sozinho se divertir como nos velhos tempos sem ao menos falar comigo, parabéns. – Já estava irritada.
-Isso é bem normal no nosso relacionamento né? Você faz coisas sem me contar, eu faço coisas sem te contar. – Ele deu de ombros.
-Um tanto infantil essa coisa de pagar na mesma moeda, não acha? Além disso, o meu caso e o seu são bem diferentes. – Cruzei os braços.
-Com toda certeza. Eu apenas fui dançar e beber um pouco, já você e Diogo...
-Ah cala essa boca Luan! – Perdi a paciência – Não venha me dizer que você foi um santo a noite toda ontem. E não faça insinuações sobre mim e Diogo!
-Você veio aqui me crucificar porque saí ontem, mas tudo que você fez foi certo? É isso mesmo Nicolle? – Ele levantou-se – Ainda acha que eu sou o culpado por Erica ter tentado te matar?
-Pode não ter sido totalmente certo, mas eu expliquei os motivos, você devia me compreender mais.
-Só que eu cansei de ser compreensivo! – Ele se exaltou.
-Então vai ser sempre assim Luan? Brigamos por nada e você vai cair na noite com outras mulheres.
-E além de tudo, ainda tem esse ciúme excessivo que você sente de mim Nicolle. Porque é tão difícil confiar? Será que o problema sou eu?
-Luan, todo mundo sente ciúmes, o problema é que você me dá muitos, muitos motivos para ser assim. – Me defendi.
-Não, você passa do limite de qualquer outra pessoa. Você se incomoda quando as mulheres pedem para tirar fotos comigo, querem conversar, me conhecer. Se incomoda quando minhas colegas de trabalho me ligam, se incomoda com minhas amigas que já existiam bem antes de eu te conhecer, e também se eu saio sozinho para algum lugar. Não sei se você se lembra, mas eu preciso de tudo isso, porque... – Ele desabafou.
-Sim, claro, porque você é o grande Luan Santana que tem que ser simpático com seu público, estar sempre na mídia, ser amado e adorado por meio mundo. Sei de tudo isso, mas será que você não se aproveita um pouco? – Meus neurônios estavam fervendo, a essa altura nada mais importava.
-Se ouve! Olha o que você esta falando! – Ele parecia não acreditar no que ouvia - Engraçado isso, você pode ficar incomodada, sentir ciúmes, mas eu não posso.
-É diferente! – Quis socar a cara dele naquele momento.
-Não, não é diferente! Você não confia em mim, não acredita, não me respeita, não atende meus pedidos, Me diz ai Nicolle, o que eu realmente sou para você? – Ele fez gestos com as mãos.
-Eu não sei mais o que você é, nem quem você é.
-Ótimo, porque você também está se mostrando totalmente diferente do que eu pensava.

Parei por um instante quando percebi que meu mundo perfeito estava desmoronando bem a minha frente. Meu namoro com Luan sempre foi um conto de fadas, mesmo com as interferências da vida, mas como Ju sempre me disse, nada disso existe e eu estava tendo a prova disso agora:
-As coisas não tinham que ir por esse caminho. – Falei em um tom mais baixo agora.
-Você escolheu esse caminho.
-Porque só eu sou a errada da história Luan? Porque sempre eu cometo os erros graves? – Lágrimas começaram a se formar em meus olhos.
-Porque essa é a verdade Nicolle, é só olhar. Desde o começo, você nunca acreditou em mim, deixou que nos separassem por isso. Sempre acha que tudo tem que ser do seu jeito, que somente você faz as coisas certas. Na primeira oportunidade desconfia de mim com esse ciúme fora do normal. Se eu te peço pra se afastar do Diogo você faz totalmente o contrario. Mas o que mais doeu, foi o fato de você ter dito que por minha causa, Erica fez o que fez. Em outras palavras, disse que eu desgracei a sua vida. Agora eu te pergunto, e o amor? Não vale nada para você? Sabe o que eu sinto Nicolle, que eu pouco importo na sua vida enquanto na minha, você tem uma importância gigante.

Fiquei chocada com tudo aquilo que ouvi, mas isso não queria dizer que eu concordava, que ele estava certo em tudo:
-Relações são feitas disso Luan, de turbulências, a gente só tem que passar por elas...
-Mas eu não quero passar! – Ele me interrompeu – Sabe, quando eu te vi a primeira vez, naquela noite do assalto... Quando meus olhos encontraram os seus eu senti uma onda boa dentro de mim, um sentimento inexplicável, foi como se eu tivesse encontrado a pessoa perfeita, aquela que Deus fez para mim. Mas olha só agora? Olha só para nós? Você diz que devemos esquecer, passar, mas e depois? O que vai acontecer amanha? Tudo só vai piorar.

Uma lágrima escorreu devagar em meu rosto, mas não fiz questão de limpá-la e ele continuou:
-Acho que apostei demais em você.
-Eu também apostei alto em você Luan! – Reuni forças para falar também – E senti a mesma coisa no dia em que nos conhecemos, mas talvez o erro tenha sido me deixar levar por isso. Nós corremos demais, fomos muito rápidos com tudo, mas sabe o que eu vejo agora? Que a gente não se conhece de verdade. A única coisa que você fez nesses quase 4 meses foi me julgar, dizer que eu estava errada todo o tempo, mas não foi capaz de olhar para si. Também me enganei com você, quantas vezes eu te disse que era perfeito? Mas não é tão perfeito assim.
-Sou Humano...
-E eu também – O interrompi falando alto – Ou você acha que não?

Respiramos fundo, enxuguei as lágrimas e continuei:
-Mas tudo isso foi bom, nos tirou daquela ilusão em que vivíamos, de que tudo era lindo e que nada podia nos abalar.
-É... Você tem razão, talvez o erro tenha sido mesmo ir rápido demais, não nos conhecemos, somos muito diferentes e... – Ele hesitou.
-... E é melhor parar por aqui antes que tudo piore.

Só Deus sabe a força que fiz para falar aquela ultima frase. Mas pelo menos no momento, era o melhor a se fazer:
-Acabou então? – Ele me olhou nos olhos, jogando em minhas costas uma enorme responsabilidade.
-Acabar é uma coisa relativa, amor quando é amor não acaba. Mas talvez separados a gente descubra se foi amor.
Depois disso, caminhei até a porta, mas antes, dei uma ultima olhada para trás e depois parti. E quanto a porta se fechou atrás de mim, ele esticou o braço, como se quisesse dizer mais alguma coisa, ou me impedir de partir, mas não o fez e murmurou:
-Talvez seja melhor assim.
...
A pior sensação do mundo, é quando você tem tudo em um segundo e no outro você vê que perdeu, que não tem mais nada, que seu chão sumiu de baixo de seus pés e que agora, você não tem para onde ir, não sabe o que fazer.

Foi exatamente assim que me senti depois que saí do quarto de Luan, desci as escadas feito um raio, com os olhos embaçados pelas lágrimas e nem me despedi dos pais dele. Depois entrei no carro e dei partida, pisei no acelerador tão fundo como se minha vida dependesse daquilo. Eu só queria sair dalí, me enfiar em algum lugar escuro até toda aquela dor passar.
Só depois de estar longe da casa de Luan, reparei que aquele domingo que tinha tudo para ser um dia bonito, tinha ficado nublado de repente e a chuva começava a cair com um pouco de violência. – O destino – talvez ele tivesse mesmo alguma coisa a ver com isso, ou alguém lá em cima estava triste pelo fim da minha felicidade. O que estou dizendo? Quem ficaria triste por mim?

Talvez meu destino fosse mesmo ficar enfiada dentro de casa, pensando somente em trabalho como eu fazia antes, na companhia de um bom livro e uma xícara de chá quente, para sempre, porque no amor eu nunca tive muita sorte.
...
Ela não viu, mas eu estava observando da janela quando Nicolle saiu correndo de dentro da minha casa e entrou no carro batendo a porta tão forte que deve ter acordado toda a vizinhança, depois pisou fundo e cantou pneus como se quisesse fugir. Achei que essa foi uma bela maneira de tentar extravasar a dor – Se é que ela esta mesmo sentindo dor – e talvez eu também devesse fazer uma coisa do tipo, mas no momento em que ela saiu da minha frente, foi como se eu perdesse todas as forças do meu corpo e agora eu só queria cair em algum canto e chorar por algum tempo.

Vi meu amor ir embora, meu passaporte para a felicidade que procurei por tanto tempo. Mas depois da conversa tensa que tivemos, onde os dois colocaram na mesa tudo que realmente sentiam e pensavam, vi que somos completamente incompatíveis e que se insistíssemos nessa relação, o fim ia ser bem mais trágico.

O difícil seria fazer meu coração entender tudo isso, porque no momento ele parecia sangrar dilaceradamente. E até mesmo a minha razão, ainda não conseguia acreditar que tudo tinha terminado daquela forma.
-Filho? – Senti a porta se abrir atrás de mim e a voz doce de minha mãe invadir o quarto.
-Oi mãe. – Enxuguei o rosto e virei-me para ela.
-Ouvi vozes alteradas e depois Nicolle saiu daqui como um raio, nem se despediu. O que esta acontecendo? – Ela adentrou e fechou a porta.
-Acho que terminamos. – Respondi natural, era isso ou chorar na frente dela.
-Brigaram uma única vez e já terminaram? Vocês jovens são dramáticos demais. – Sorri de canto ao ouvir aquilo – Logo passa, vocês voltam, brigam de novo e esse é o ciclo.
-Acho que não.
-O fato é que nunca vi você se dar tão bem com alguém como com ela. – Silenciei ao ouvir aquilo, era verdade – Nicolle é uma mulher correta, coerente, decente, educada, perfeita para você.
-Talvez ela não seja tão perfeita quanto a senhora pensa mãe. – Falei baixinho.
-Perfeito é apenas um modo de falar, só quero dizer que ela tem mais pontos positivos que negativos. Pense nisso.
E ao dizer esta verdadeira “Pérola”, minha mãe beijou o alto de minha cabeça e saiu, serena como sempre. Me fazendo refletir ainda mais sobre tudo que estava acontecendo.
...
Nem vi como cheguei em casa, apenas entrei, peguei o telefone e liguei para Ju que ao ouvir minha voz embargada, acordou mesmo de ressaca e veio me socorrer. Contei tudo a ela, enquanto morria um pouco mais por dentro ao repetir cada palavra dita naquela briga:
-Não pode acabar assim Nicolle, vocês não podem terminar! – Ela falou com o cenho franzido.
-Talvez ele tenha razão, talvez nós sejamos mesmo completamente diferentes. Você também sempre teve razão, contos de fadas não existem. – Falei de dentro do abraço dela.
-Esqueça o que eu disse, eu falo demais amiga, você sabe. Você e Luan foram feitos um para o outro, todo mundo sabe.
-Temos moldes diferentes amiga...
-Não, vocês se amam, tem que ficar juntos! - Silenciei e ela continuou – Não chora não, isso passa. Tenho certeza que tudo isso foi da boca pra fora, que mais tarde quando ele esfriar a cabeça, vai te ligar e vocês vão se acertar. Todo mundo é assim Nicolle.
Depois daquilo eu não quis dizer mais nada, mas algo dentro de mim dizia que daquela vez ela estava errada, que aquilo não iria acontecer.

Ju ficou um pouco comigo, depois fiz com que ela fosse cuidar de sua própria vida para eu ficar um pouco sozinha. O dia escorreu devagar, tentei dormir mas foi em vão, enquanto isso, Luan seguia viagem para mais um de seus shows naquela noite, para ainda mais longe de mim, distante de nós.

No dia seguinte, levantei arrastando uma tonelada da noite mal dormida, de tudo que estava sentindo e fui para o trabalho. Mas naquele dia não consegui me concentrar, até cometi alguns erros e isso chamou a atenção de Valter, meu chefe que me chamou em sua sala:
-Com licença. – Falei enquanto entrava.
-Senta. – Ele falou calmo – Te chamei aqui porque estava analisando a reportagem que você fez agora cedo e senti que esta um pouco dispersa, distante, errou em alguns momentos. Você não é disso.
-Me desculpe, de verdade. Vou ficar mais atenta, é que dormi meio mal essa noite. – Falei o que estava estampado em minha cara.
-Nicolle, somos amigos não somos? – Ele cruzou os dedos e me olhou.
-Claro.
-E você sabe que pode falar o que realmente esta acontecendo, não sabe?
-Problemas amorosos, mas eu realmente não queria entrar nos detalhes. – Me encolhi.
-Ah, entendo. – Ele pareceu relaxar.
-Eu sei que não devia deixar isso interferir no trabalho, mas eu não sei, é inevitável. Em fim, me desculpe de verdade, não vai mais acontecer e... – Tentei me explicar desesperadamente mas ele me interrompeu.
-Quer tirar o dia de folga hoje? – Valter sorriu de canto.
-Imagina, não posso fazer isso.
-Pode sim, vai menina, porque desse jeito você só vai me dar prejuízo aqui. Vá para um lugar tranqüilo, esfrie a cabeça, ponha as coisas em ordem e volte amanha.
-Você é realmente um amigo. – Finalmente sorri amarelo para ele.
-É, eu sou.

E depois de um abraço de agradecimento, saí do trabalho ainda meio sem saber para onde ir, até que um toque leve em meu coração me faz lembrar de Vó Amélia, então, corro diretamente para lá.

[Continua]

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