quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Ultimo Capítulo - Além Dessa Vida

[...]

Era sábado, mas aquele não era um sábado qualquer, e sim um dia especial, o nosso dia, o dia da família. Luan estava em casa naquele sábado - o que era raro de acontecer - então, como já tínhamos feito algumas vezes ao longo desses quase 8 anos, dispensamos a babá Yara, as empregadas e a cozinheira, ficando assim sós. A intensão era ficamos em família, juntos de bobeira o dia todo, sem mais ninguém, apenas nós e nossos pequeninos. Em dias como esse brincávamos muito, assistíamos filmes, ficávamos horas na piscina, nós mesmo cozinhávamos juntos, e é claro que rolava muita musica também. 

Mas naquele dia, algo saiu da rotina que criamos, e na parte da manha eu recebi um telefonema importante: 
-Mas agora? Hoje? Hoje é sábado. - Reclamei enquanto Luan me olhava atento para saber o que estava acontecendo.
-O que foi? - Perguntou ao ver minha cara de negação. 
-A editora precisa que eu assine alguns papéis agora. - Sussurrei para ele. 
-Vai lá então, é importante. - Incentivou. 
-Espera só um minutinho. - Pedi ao pessoal do telefone e o abafei - Mas e nós, e as crianças, esqueceu que Yara não esta aqui? 
-Ué, mas eu estou, sou pai ou não? - Sorriu. 
-Você da conta? - Franzi o cenho. 
-Claro né Nicolle, são meus filhos. Vai, assina os papeis e volta, rápido. 
-Ta. - Voltei para o telefone - Oi, já estou indo, chego num minuto. Até mais. 

Então subi as pressas, troquei de roupa e desci novamente. Lorenzo, Henrique e Manuela já estavam acordados, porem todos naquela preguiça da manha, um jogado em casa canto, acho que não dariam tanto trabalho. 
-Anjinhos, tô indo ali na editora rapidão, vocês vão ficar com o papai, se comportem por favor. - Anunciei. 
-Mas mãe, é o nosso dia! - João Lorenzo reclamou - Você não pode trabalhar. 
-Não vou trabalhar filho, só vou assinar uns papéis, já volto, prometo! - Dei um beijo nele, em seguida nos outros, depois virei-me para Luan - Olhos e ouvidos atentos, eles vão cegar você, já sabe, cuidado pelo amor de Deus e estejam todos vivos quando eu voltar. 
-Falando assim você me ofende. - Ele ria de mim. 
-Você nunca ficou sozinho com os 3. 
-Tudo tem uma primeira vez, agora vai e volta logo, te amo. - E me jogou um beijo no ar. 
Devolvi o beijo, respirei fundo e fui, rezando para que nada os acontecesse. 
...
E pela primeira vez eu me vi sozinho com meus 3 filhos. Sei que você deve estar se perguntando, que espécie de pai é esse que nunca ficou sozinho cuidando dos filhos nesses tempos modernos. Mas o curto tempo não permitia, nem a mulher super protetora que eu tinha, ela sempre dizia "Uma criança já precisa de muitos olhos cuidadosos, imagina 3", e por isso sempre tínhamos babá, parentes e empregados por perto ajudando. Mas como eu disse, tudo tinha uma primeira vez e não seria tão difícil, pelo menos era isso que eu achava.

-Papai, tô com fome! - João Henrique abriu os trabalhos. 
-Vem, vamos ver o que tem na cozinha. - Chamei e nos dirigimos até a cozinha. 

Chegando lá, comecei a abrir os armários procurando coisas que pudesse dar a ele para comer, foi quando a voizina de Manuela ecoou perto de nós:
-Papai, papai, me pega no colo. 
A peguei no colo com uma mão e agora só tinha a outra livre para procurar a comida:
-Filho pega o leite na geladeira. - Pedi a Henrique. 
E quando ele foi fazer isso, deixou que a caixa de leite caísse, derramando todo o leite e sujando todo o chão da cozinha, foi quando Lorenzo chegou bem na hora:
-Ih, tinha que ser o Henrique né, presta atenção moleque. - Lorenzo reclamou. 
-Cala a boca Lorenzo, foi sem querer! - Henrique esbravejou. 
-Você não faz nada direito! - Lorenzo devolveu. 
-Não se mete! 
-Ei, vamos parar os dois? - Tentei por um fim na discussão. 
-Pai, manda ele me ajudar a limpar! - Henrique pediu se referindo ao irmão. 
-Eu não vou limpar nada, não fui eu que derramei! - Lorenzo se defendeu. 
-Mas você tem que me ajudar! 
-Chega! - Alterei a voz - Já disse! Deixa isso ai Henrique, vamos comer primeiro e limpar depois, todos! 
-Pai, isso não é justo... - Lorenzo insistiu. 
-Eu vou ter que falar de novo? - O olhei severamente. 

Finalmente ambos se calaram, foi ai que Manuela começou a chorar:
-Papai ta "bavo"! - Ela choramingava. 
-Não meu amor, papai não ta bravo com você não ta? - Tentei acalmá-la

Retiro o que eu disse, nada estava sendo fácil e tudo estava virando um caus. Nicolle só tinha saído a alguns minutos e a cozinha estava toda suja, Lorenzo e Henrique brigando e Manuela chorando, ótimo, que belo pai que eu sou. Mas eu precisava dar um jeito em tudo aquilo.
...
Não demorei muito para resolver tudo na editora e logo consegui voltar para casa. Mal podia esperar para aproveitar meu dia com meus filhotes e meu amor, por isso foi o mais rápido que pude, quando cheguei guarde o carro normalmente e me dirigi a porta de casa, mas quando abri, tive várias surpresas a começar pela sala, tudo estava impecável, nenhum brinquedo jogado no chão, nenhum barulho de choro e nenhum grunhido desesperado de Penélope sendo judiada pelas crianças. Lorenzo e Henrique lado a lado no sofá em plena harmonia vendo um filme na TV, e no tapete, Luan deitado com Manuela fazendo cavalinho em sua barriga, enquanto a menina brincava ele também olhava o filme. 

-Uau, que paz! - Exclamei e eles perceberam minha presença. 
-Mamãe! - Manuela correu para mim. 
-Oi amor. - Luan sentou-se e me chamou para junto deles - Resolveu tudo? 
-Resolvi, e pelo visto você também por aqui né? - Olhei em volta, de repente Penélope apareceu para se juntar a nós. 
-Tentei. - Sorriu. 
-Mas me contem, se divertiram sem mim? 
-Nossa, muito. - Ele mesmo respondeu, os meninos continuavam calados. 
-O que comeram? 
-Pizza! - Manuela respondeu. 
-Pizza? Essa hora? - Estranhei. 
-Esta Manuela é uma boca frouxa mesmo em. - Luan reclamou sorrindo - Desculpe, esquentei uma pizza congelada e dei para eles, você sabe que eu não sou muito bom na cozinha. 
-É, eu sei. Mas e vocês, porque estão tão calados? - Cutuquei os gêmeos. 
-Nada mãe, só estamos vendo o filme. - Henrique respondeu. 

Sinceramente estranhei, achei que iria encontrar a casa toda uma bagunça, as crianças brigando ou chorando, Penélope amarrada em algum lugar e Luan sem saber o que fazer, mas não, tudo estava sob controle, as crianças quietas demais, isso não era normal. 

Fiquei por ali um tempo, vendo o filme com eles e assistindo as gracinhas de Manu, até que senti cede, levantei e fui até a cozinha, mas ao chegar lá, tive mais uma surpresa:
-Luan! O que aconteceu com a cozinha? - gritei la de dentro ao ver toda aquela sujeira e bagunça. 
-Ih, esquecemos da cozinha! - Ele falou baixinho para os meninos. 

E em questão de segundos estavam os quatro atrás de mim na cozinha em meio a toda aquela sujeira:
-Ta amor, desculpa, a verdade é que eu perdi o controle de tudo, o Henrique ficou com fome, viemos para a cozinha, a Manuela pediu colo, o Henrique derramou todo o leite, ele o o Lorenzo começaram a brigar, Manu chorou, eles ainda estavam com fome, eu fiz uma  bagunça tentando esquentar a pizza e depois mandei catarem todos os brinquedos da sala se não, não iam ganhar pizza, depois pedi que não contassem nada porque eu queria mostrar que sou um bom pai mas na verdade não sou. - Ele tagarelou sem parar, enquanto eu só o olhava. 
-Mãe, não briga com o papai, fui eu que derramei o leite. - Henrique intercedeu por seu pai. 
-É mamãe, não briga com ele, a culpa foi nossa e da Manu, essa chorona. - Lorenzo falou bravo olhando para a pequenina que não entendia nada. 
- Não fala assim com ela, tadinha. - Pedi. 
-Você nunca mais vai confiar de deixar os meninos comigo né? - Luan me olhou pidão. 

Analisei os quatro por um tempo, estavam enfileirados numa ordem perfeita, Luan primeiro, Lorenzo, o gêmeos mais velho ao seu lado, ao lado dele Henrique e por ultimo Manuela. Então, só me restou rir daquela situação:
-Para gente, relaxa, não é nada demais. - Falei sorrindo - Meu amor, eu já sabia que tudo isso ia acontecer e sei que você deu seu melhor, aliás, você é o melhor pai do mundo, sabe disso. - Acariciei seu rosto - Quanto a vocês, não se preocupe, não vou brigar com o pai de vocês por causa dessa lambança toda. - Eles sorriram satisfeitos. 
-Jura? Não acha que eu sou um fracasso? - Ele se aproximou, o rosto pertinho do meu. 
-Acho, mas fazer o que né? - Brinquei. 
-Boba linda. - Selinho. 
-Pelo menos estão vivos e ninguém colocou fogo em nada. - Joguei as mãos para o ar. 
-É, mas faltou pouco viu? - Ele finalmente relaxou - Não sei como você consegue, eles são impossíveis, falando todos ao mesmo tempo, brigam e choram. - Ri desse comentário, parecia que ele nunca tinha estado ali e acabara de conhecer a crianças. 
-É, eu mereço um prêmio. 
-E esse prêmio pode ser um beijo? - Mudou o tom para o sedutor. 
-Sempre. - Sorri enlaçando seu pescoço. 

E assim nos beijamos, em meio aquela situação tão banal e feliz. Podia parecer impossível de existir momentos como aquele se tratando do grande Luan Santana e sua família perfeita, mas nós quem fazíamos nossa realidade, pura e simples e sempre seria assim, cheia de amor:
-Isso só prova que não saberíamos viver sem você. - Ele falou entre o beijo. 
-É, então tratem de me poupar e cuidar muito de mim. Podem começar limpando esta bagunça aqui. - Sorri irônica e ele me olhou perplexo - Que é? Achou que eu ia limpar tudo? Lorenzo! Henrique e você também dona Manuela, podem voltar já aqui! - Chamei as crianças que já tinham ido cada uma para um lado. 
-Você não vai ajudar? - me olhou com um fio de esperança. 
-Não, vou fiscalizar. - E sentei-me em um banco alto - Vassouras, panos e tudo mais estão ali na dispensa, podem começar. 
-Mãe você é uma carrasca! - João Henrique falou parecendo um adulto, mas isso era fruto da leitura sempre incentivada lá em casa. 
-Você nem sabe o que significa essa palavra, para de enrolar e vai logo! 

E assim, eles limparam tudo, enquanto fiquei só dando ordens e rindo da situação. Quando terminaram fomos para a piscina e daí curtimos todo o nosso "Day Off In Family", brincando muito e acima de tudo se amando muito, recuperando as energias para a vida. 

Quando a noite caiu, depois de um jantarzinho feito por mim, colocamos as crianças para dormir como de costume. Os gêmeos agora já crescidos, costumavam ler alguma coisa e dormirem sozinhos, sem precisar mais de nós, já a pequena Manuela ainda gostava de ouvir histórias ou canções de ninar. Então, depois de fazermos o ritual com ela, saímos de seu quartinho fechando a porta, demos mais uma olhada nos gêmeos que já dormiam e por fim, nos vimos sozinhos no corredor.

-Ei jamais vou me acostumar com este silêncio. Quando eles dormem parece que a casa fica sem vida - Toquei as paredes - Não quero nem pensar quando eles crescerem, seguirem seus rumos e nós dois ficarmos aqui, sozinhos. 
-É verdade. Mas não vamos pensar nisso agora, eles ainda são nossos bebês. - Me abraçou por trás, cheirando meu pescoço. 
-É, nossos bebês. - Sorri. 

Silenciamos por um instante, até que fomos para o nosso quarto. Ao chegar lá, vi que a janela estava aberta e a lua lá fora estava cheia e linda, fui até la imediatamente e em segundos, Luan estava ao meu lado, me envolvendo num abraço:
-A lua esta linda hoje né? - Falei. 
-Não mais que você. - Me fez olhá-lo e sorriu. 
-Os anos passam e você continua com esses clichês né? - Ri dele. 
-Fazer o que se o amor é clichê. - Soltou outro. 
-Tudo bem, você pode, sempre pode. - Passei a mão por seus cabelos imaculados - No fundo eu gosto, não quero que você muda nunca. - Mergulhei em seus olhos. 
-Não vou mudar. Mas também não quero que mude, quero que seja sempre assim, minha, minha bela menina. - Acariciou meu rosto. 
-Hum, além de clichê você rouba frases dos outros é? - Me referia a o grande Lorenzo Ferraro. 
-Ué, nos não somos a mesma pessoa? - Falou como se fosse óbvio - E faz total sentido, esse apelido é lindo, tem tudo a ver com você. 
-Realmente. Eu gosto de ouvir. 
-Então lá vai, eu te amo Bela menina e vou te amar para sempre. - Me arrepiei, pareceu mais sincero do que nunca e acima de tudo, pareceu ser Lorenzo mais do que nunca. 
-Eu também te amo, e vou amar para sempre. 

E depois disso nos beijamos. Aquela cena já tinha se repetido inúmeras vezes em nossas vidas, as mesmas juras,os mesmo momentos clichês, mas eu jamais trocaria aquilo por nada. Aqueles momentos eram somente nossos e se faziam eternos, sempre, assim como nosso amor que seria eterno também. 

Depois de tudo, estaríamos sempre vivos em algum lugar, ou em alguém. Nosso amor era o sonho de qualquer pessoa, forte, bonito, sólido, perfeito,mas era nosso. Um amor que foi um misto de "a primeira vista" com algo que foi construído, tijolinho por tijolinho, até se tornar a grande muralha que era. 

E no final, de alguma forma, demos a oportunidade de Lorenzo e Cecília viverem o amor deles que foi interrompido bruscamente e tivemos a nossa chance, nós, Luan e Nicolle, de vivermos nosso amor do nosso jeito, sempre e para sempre. 


... 

6 comentários:

  1. NAAAAAAO PODE ACABAR :((((

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  2. AAAAAAAAAAAAAAAiwwwwwwwww perfeito, muito lindo o final, que pena que acabou. Mas não iria durar para sempre né. :'( Bjos!

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  3. Lindo,perfeito como foi desde o inicio! Sem mais

    Priscila

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Pela milésima vez lendo... Perfeito, quando leio sempre tenho as mesmas sensações, pra mim parece real, não sei à cada capítulo parece que vivia aquilo. Quando a Nicole ou a Cecília choravam eu chorava também, quando elas estavam felizes eu ficava feliz também, e viajava imaginando toda a história.
    Parabéns, e com certeza não vou me esquecer nunca dessa fanfic, sempre irei lê-la.

    Carianne

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