Capítulo 134

Como prometido, mais um capítulo, espero que gostem ;)

[...]

Mais uma crise, mais uma vez no hospital, mais uma internação, e eu me perguntava quando aquele sofrimento ia acabar, o que nós fizemos para merecer isso? ... Como sempre tive que aguardar enquanto Marcela e outros médicos cuidavam de Nicolle e dos gêmeos, sentindo aquela velha aflição, a angustia, a sensação de estar com as mãos atadas que eu já conhecia tão bem. 

Sentei, rezei, levantei, andei até que Marcela apareceu e eu quase me joguei aos seus pés querendo notícias:
-Conseguimos controlar a situação, esta tudo bem agora. Nicolle esta dormindo um pouco, já fizemos um ultra, João Lorenzo e João Henrique estão bem também, nada os atingiu. - Sua expressão era de cansaço, mas ela tentou sorrir.
-Graças a Deus. Ela vai ter que ficar internada? - Perguntei.
-Bom Luan, conversei com outros médicos e decidimos que seria melhor que... Fizéssemos o parto o quanto antes. É muito arriscado tentar esperar os nove meses completos e as chances de que tudo isso suma depois que os bebês nascerem é muito grande.
-Mas... Mas isso pode... digo, é seguro? - Eu não sabia o que pensar.
-É seguro, os bebês já estão completamente formados, faremos uma cesariana, tenho certeza de que tudo vai correr bem. - Ela era otimista.
-Mas e a Nicolle? Não vamos falar com ela sobre isso? 
-Vamos, esperamos ela acordar, observamos como ela vai se sentir e acima de tudo como estará sua pressão, daí, se estiver tudo bem, realizamos o parto amanha mesmo. 

Não soube bem o que dizer, aquela decisão não era só minha, mesmo assim, Marcela já tinha nos avisado que um parto antecipado poderia acontecer. Temi pelos gêmeos, e se eles ainda não estivessem prontos? E se Nicolle ainda não estivesse pronta? O que poderia acontecer? Mas nada podia ser feito, se era a vida dos três que estava em risco, teríamos de agir. 

Por volta das 6:30 da manha, liguei para a família de Nicolle para avisar dos acontecimentos - antes que o pai dela descobrisse pela imprensa e ficasse furioso comigo de novo - eles disseram que estavam a caminho, chegariam o mais rápido possível. 

Fiquei por ali, recebendo o apoio de meus pais e não conseguia parar de pensar que poderia estar com meus filhos no colo no dia seguinte, tudo ia virar realmente realidade, nem dava pra acreditar. Será que se pareceriam comigo? Com a Nic? Com outra pessoa da família? Será que iam mesmo ser uma dupla sertaneja como todos diziam? E eu? Será que seria um bom pai? Acho que teria de esperar um pouco mais pra saber disso. 

As horas foram se passando, tomei alguns cafés para combater o sono e o frio que fazia, até que me avisaram que Nicolle tinha despertado, fui imediatamente vê-la. Mais uma vez tinha um aparelho auxiliando na sua respiração, um soro em uma das mãos, um aparelhinho nos dedos e os batimentos cardíacos também estavam sendo monitorados. Eu odiava o som daquelas máquinas, me remetiam sofrimento:
-Olá... Como se sente? - Cheguei perto dela, beijei sua testa e me acomodei ao seu lado segurando sua mão.
-Cansada. - Ela me respondeu quase num sussurro. 
-Tudo isso já vai acabar, e no final você vai ver que tudo valeu a pena. - Sorri de canto.
-Eu sei que sim. 
-Avisei seus pais e Antonela, eles estão vindo. - Comentei alegremente. 
-Ah não... - Ela gemeu, acho que aquilo foi uma brincadeira, pelo menos eu espero.
-Conversei com Marcela enquanto você dormia. - Iniciei.
-E...? - Ela respirou fundo, seus olhos estavam pequeninos.
-Ela vai conversar com você, mas... Acha que é melhor antecipar o parto. - Tentei decifrar sua reação, não consegui.
-Eu sabia que isso ia acontecer, achei até que demorou muito. - Ela sorriu amarelo.
-Você concorda com isso? 
-E eu tenho escolha? - Puxou o ar - Se esperar mais... - Ela não continuou. 
-Vai dar tudo certo. - Tentei lhe inspirar positividade.
-Vai sim. - Ela me devolveu um sorriso com o máximo de esforço - Ansioso para segurar seus filhos? 
-Você nem imagina o quanto. - Quase pude ver meus próprios olhos brilhando.
-Então vamos em frente. 
E ao dizer isso, apertou minha mão um pouquinho, como se estivesse dizendo "É por você, pra você!", me emocionei. 

Nicolle era uma mulher admirável, e provou a todos que aquela menininha frágil, desatenta e desastrada que caia o tempo todo e morria de medo de água, podia ser forte, guerreira e calar a boca de todos que duvidavam dela. Tinha se transformado durante esse ano, e as vezes eu me perguntava se podia me dar ao luxo de falar que essa transformação foi por mim. Mas ela também tinha me ensinado muita coisa, e eu carregaria para a vida todos os seus ensinamentos, assim como queria carregar sua presença ao meu lado, por toda a eternidade. 

-Eu te amo muito, não se esqueça. - Falei depois de me desvincular daqueles pensamentos.
-É muito bom ouvir isso... Também te amo muito. 

Então, selei seus lábios devagarinho por longos segundos, foi aí que Marcela entrou:
-Mais que bonitinhos vocês, nem parecem que estão num hospital. - Ela falava bem humorada. 
-Pro amor não tem lugar doutora! - Brinquei e todos sorriram. 

E aquilo era mesmo verdade, eu amaria Nicolle em qualquer lugar, a qualquer hora, debaixo de qualquer tempo, enfrentando qualquer coisa, por que amar é exatamente isso, não se render aos momentos desfavoráveis, mas sim, usar o amor para suportá-los e era isso que estávamos fazendo. 

Logo a família de Nic chegou e foi aquela coisa, todos preocupados querendo vê-la. A imprensa também descobriu o que estava acontecendo e montaram guarda na porta do hospital. O dia foi passando e Nicolle ficou em observação, a noite também e como ela teve uma grande melhora, Marcela marcou o parto para o dia seguinte, as 15:00 da tarde. 

Quando o novo dia chegou, a ansiedade só aumentava em todos nós. Pude passar a manha inteira ao lado de Nicolle naquele dia, ela parecia tranquila por fora, mas eu podia apostar que por dentro também estava nervosa. 

Quando as 3 da tarde do dia 6 de Janeiro de 2015 chegaram, fomos para a sala de parto. 

...

Como eu já esperava o parto foi antecipado, e eu não sabia bem o que sentia em relação a isso, nervoso sim, sempre, mas felicidade também em saber que em pouco tempo teria meus garotinhos no colo e todo aquele pesadelo terminaria de vez. Também tinha Luan ao meu lado, meu salvador, meu anjo protetor, meu príncipe sempre encantando, o que poderia nos acontecer? Nada. 

Então, as 15 da tarde em ponto eu já estava na sala de parto recebendo uma anestesia. Marcela me sorria confiante, Luan segurava minha mão e eu podia sentir seu nervosismo de longe. Queria que vó Amélia estivesse ali também, mas sabia que não era possível, em fim, respirei fundo e busquei pensamentos positivos enquanto a anestesia fazia efeito. 

Usaram um pano azul para que eu não visse nada e agradeci por isso, acho que não seria legal ver eles cortando todas aquelas camadas de gordura, em fim, Luan pensava como eu e ficou do lado de cá junto comigo, esperando o grande momento.

Mas o que me fazia pensar que depois de tudo, justo a hora do parto seria fácil? Tudo ia bastante bem, até que comecei a ver novamente os pontos e luzes em meus olhos, imediatamente senti como se meus pulmões tivessem se fechado completamente. Busquei  ar desesperada mais não conseguia respirar direito, meus batimentos aceleraram, a pressão subiu de uma hora pra outra e o pesadelo começou.

Uma enfermeira colocou o balão de oxigênio, outro me aplicou alguma coisa no braço, comecei a me desesperar depois de ver a cara de aflição de Luan, eu não podia passar mal naquele momento, não podia desmaiar, tinha que me manter forte e acordada, mas não conseguia respirar, não conseguia! 
-Meu amor, calma, vai ficar tudo bem, calma por favor. - Senti a voz dele embargada ao dizer isso, meu coração apertou.
-Eu... Eu não... não... - Não conseguia falar - Cuide.... Cuide deles... 

O medo me invadiu, eu não podia morrer naquele momento, não podia deixar Luan e nosso filhos, não podia! Me desesperei ainda mais, ouvi barulhos, correria, também ouvi Marcela gritando alguma coisa, Luan parecia apavorado:
-Eu te amo, fica acordada por favor, eu te amo, eu te amo. - Ele suplicava já chorando.
-Eu... te amo. 
Isso foi a ultima coisa que disse antes de apagar completamente.

"Naquela noite Cecília colocou seu melhor vestido, estava mais linda do que nunca e Lorenzo não ficava para trás. Saíram animados para a cidade, e no caminho conversavam:
-Você se casou com o melhor dançarino do mundo! - Lorenzo se vangloriava. 
-Ah é? Quero só ver se isso é verdade mesmo. - Ela ria.
-É claro que é! - Num movimento rápido ele a rodopiou e a agarrou junto ao corpo. 
-Diz que me ama... - Ele pediu sedutoramente. 
-Te amo, eternamente. - Ela acariciou seu rosto. 
-Promete? Promete que vai me amar pra sempre? 
-Prometo, para sempre! 

E quando estavam prestes a se beijar para selar aquela promessa, um carro entrou na viela e acendeu os faróis sobre eles, instintivamente, Lorenzo deu um passo a frente e fez com que Cecília ficasse atrás dele. Não dava pra ver quem era, os faróis estavam altos, mas o barulho do tiro ecoou e deu pra ouvir muito bem. 

Alguém que estava a bordo do carro, sacou uma arma e atirou em Lorenzo, o tiro acertou bem no peito. O carro foi embora e o corpo do aviador caiu sobre o de Cecília que deu um grito estridente, caindo ao chão também. 

O sangue começava a jorrar do peito de Lorenzo, e ela gritava desesperadamente:
-Socorro! Alguem me ajude por favor! - Mas parecia que ninguém lhe ouvia - Lorenzo! Lorenzo meu amor fale comigo, fique acordado, vamos, fique acordado! 
A dor de ver seu marido caído e ferido ali estilhaçava o coração de Cecília, ela gritava como uma louca, chorava desesperadamente e chamava por ele:
-Lorenzo! Lorenzo você não pode me deixar! Não pode! Fala comigo por favor, fala comigo! 

[Continua]

Vixi, 

capítulo realmente TENSO esse em! 

O parto foi antecipado e Nic passou mal bem na hora. 

Já no sonho, Lorenzo levou um tiro...

Mas quem será que vai se salvar? 

Os dois? Nenhum? Apenas um?

Aguardando os comentários de vocês ;)

Beijos

Mayara

@Luansmyway