Capítulo 190

[...]

1 Anos depois... 

-É meu brinquedo! - João Henrique puxava o boneco pelas pernas.
-Não é seu, é meu! - João Lorenzo retrucava puxando o boneco pelos braços. 
-Mamãe! Olha o Lorenzo! 
-Mamãe! Olha o Henrique! 

E nessa pequena guerra, os dois puxaram tanto o tal do brinquedo que acabou se partindo ao meio quando eu cheguei:
-Olha ai, satisfeitos? Ninguém vai poder brincar mais agora! - Me abaixei até a altura deles - Meus filhos, olha só o tanto de brinquedos que vocês tem e insistem em brigar pelo mesmo. Tem que parar com isso! 
-Mamãe, foi ele! - Henrique apontava para o irmão com cara de choro. 
-Mentira, foi ele! - Lorenzo rebatia. 
-Foram os dois! - Falei com autoridade - Agora parem com essa história e vamos logo porque a tia Marcela esta nos esperando. 
E assim, encerramos a discussão e fomos os três para o carro. 

Podia não parecer, mas os gêmeos só tinham 4 anos. Mesmo assim eram espertos, falantes e brigões. Volta e meia estavam discutindo por alguma coisa, outra hora estavam se amando tanto que era até bonito de se ver, mas isso não nos preocupava tanto, afinal, irmãos são assim mesmo. 

Mas vamos falar um pouco sobre o que aconteceu nesse um ano que se passou: Na verdade nada mudou muito, como disse os gêmeos estavam mais crescidos, mais inteligentes, mais arteiros e mais parecidos com Luan, claro. Todos diziam que eram duas pequenas miniaturas do pai, tanto na aparência física quanto nos jeitos e trejeitos, sem falar na eterna admiração e idolatria que tinham a Luan, mesmo muito pequeninos faziam de tudo para dar orgulho ao "velho", e o momento em que ficavam mais felizes era quando ele voltava de viagem para ficar com eles. Mas eu também não ficava para trás no quesito amor e admiração, a diferença era que eu estava com eles todos os dias, todas as horas e por isso era responsável por botar ordem naquelas pequenas vidinhas, ensinando o certo e o errado e repreendendo quando preciso, então, as vezes eu ficava como a má da história enquanto Luan era o responsável pela diversão e alegria, aquele típico pai que permite tudo e nunca fica bravo. Mas o que esperar dele se não isso? 

Quanto a nós, o "Casal", estávamos com 3 anos e meio de casamento, tudo ia perfeitamente bem como sempre, alguns arranhões aqui, reconciliações ali, surpresas salpicadas de vez enquanto para temperar e muita maturidade eu diria. Parecia que quanto mais o tempo passava, mais nós dois íamos nos moldando, um ao outro, e se acertando para conviver cada vez melhor. 

Quanto aos outros, todos também iam bem, e tenho que falar uma coisa importantíssima dobre Juliana que finalmente aquietou-se na vida e adivinha com quem? Com Vicente! Isso mesmo, aquele encontro promovido por mim resultou em outro encontro e mais outro e outro e assim eles foram ficando, ficando e hoje estão juntos oficialmente a alguns meses, namorando de verdade, quem diria. Mas tenho que dizer que os dois formam o casal mais lindo e divertido que já vi. 

Minha família ia bem, a de Luan também, de vez enquando promovíamos grandes encontros entre todos. Vó Amélia também estava bem, continuava lá na casa de repouso, a mesma de sempre, pareci que o tempo não passava para ela, ainda lúcida e ávida, continuava com suas crenças e "poderes místicos". Certo dia Luan até perguntou se ela não queria vir morar com a gente, afinal, a casa era grande e lá ela seria bem cuidada por mim e ficaria perto dos bisnetos, mas ela se recusou, disse que não queria atrapalhar a vida de ninguém e nem adiantou argumentar, pois quando ela dizia uma coisa, batia o martelo. 

Yara, a babá também continuava firme e forte lá em casa com a gente, nós não vivianos sem ela e ela não vivia sem a gente. E outra figura importante que também não podia faltar era nossa macotinha Penélope, que continuava fazendo a alegria dos gêmeos e a nossa também, claro. 

E agora, lá estávamos nós indo para uma consulta com Marcela. Na verdade era uma consulta de rotina para os gêmeos e para mim, para eles porque são crianças e precisam de atenção, e para mim porque de seis em seis meses eu checava religiosamente se ainda existia alguma sequela da pré-eclâmpsia em minha vida, afinal, não custava prevenir. 

O combinado daquele dia era que Luan iriam com a gente, mas ele não conseguiu chegar a tempo, então, fomos apenas eu e os meninos:
-5 minutos atrasados, só vou perdoar porque são meus pacientes preferidos! - Marcela falava enquanto abraçava Henrique e Lorenzo. 
-A culpa é desses dois que resolveram brigar bem na hora de sair. - Reclamei enquanto ela vinha me cumprimentar. 
-Não acredito! Estavam brigando meninos? - Perguntou a eles se fazendo indignada. 

Nenhum dos dois quis responder, se fizeram de desentendidos e foram mexer nas coisas do consultório de Marcela que agora estava maior, ela tinha ampliado tudo, estava investindo, mas nunca nos abandonou. Já quanto a sua vida amorosa, ainda estava com doutor Adriano - o ranzinza, mal humorado e antipático - mas o relacionamento deles era meio conturbado, cheio de indas e vindas, mesmo assim, eu preferia não me meter. 

Então, sem mais delongas começamos os procedimentos padrões, primeiro com os gêmeos, e como sempre, tudo estava bem com eles. Além de não terem ficado com nenhuma sequela daquela gravidez conturbada, esbanjavam saúde. Depois ela verificou alguns exames que eu já tinha feito com antecedência e repetiu o que dizia sempre:
-Como sempre, tudo ótimo com você Nicolle, nada fora do normal, nada de sequelas. - Ela sorria.
-Que bom. - Sorri também. 
-Tudo bem com você, tudo bem com os garotos e eu sinto como se uma missão estivesse completamente cumprida. Ainda lembro quando adentrou esse consultório a primeira vez, tinha acabado de descobrir a gravidez, e olha só como o tempo passou. - Ela resolveu relembrar. 
-Pois é, parece que foi ontem. - Tentei relembrar só as coisas boas. 
-Sabe Nic, esses dias estava pensando... "Os gêmeos já estão grandinhos, será que eles não pensam em ter outro filho?"

Ao ouvir isso esbocei um sorrisinho sonhador e depois lancei um olhar terno para Lorenzo e Henrique que brincavam num canto da sala:
-Não vou mentir para você, eu já pensei nisso algumas vezes, mas... sempre que penso em engravidar de novo, me vem na mente todas as lembranças de tudo que eu passei, que todos passamos e eu, sinceramente, tenho medo de passar por tudo de novo e... não resistir dessa vez. - Falei emocionada. 
-Eu entendo perfeitamente, mas e Luan? 
-Ah, eu sei que ele quer muito uma menina. - Sorri imaginando seu rosto - Mas não fala muito sobre isso, porque também tem medo de enfrentar tudo novamente. 
-Sei que é difícil esquecer, mas acho que eu tenho algumas notícias que podem ajudar... - Ela me sorriu novamente, fiquei curiosa. 
-É? Quais? 
-Bom, de acordo com os estudos, a mulher que tem pré-eclâmpsia na primeira gravidez, tem sim chance de voltar a tê-la se engravidar de novo, mas em menos intensidade, ou seja, se acontecer, você não corre tantos riscos quanto na primeira. Mas também existem casos de mulheres que não são acometidas novamente e levam uma gestação completamente normal. Resumindo, você tem muitas poucas chances de passar pelo que passou novamente, claro que essas chances não são nulas, mas sou muito remotas e se ocorrer a pré-eclâmpsia de novo, não vai ser nada tão assustador e considerando que você está ótima e não ficou com nenhuma sequela... Mas a decisão é sua, é o seu corpo, a sua vida, você quem tem de escolher. 

Após ouvir tudo aquilo, uma pequena chama se acendeu dentro de mim novamente. De vez em quando eu me pegava pensando se não poderia ter outros filhos, e que realmente gostaria de ter uma menininha correndo pela casa junto com os irmãos, além de querer muito dar essa alegria a Luan e aumentar nossa família. 

-Esta pensando no assunto? - Marcela fez com que eu despertasse. 
-Estou, mas isso é uma coisa que tem que ser pensada com calma né? Tenho que falar com Luan também. 
-É, vá no seu tempo... Mas quero que saiba que qualquer que seja sua decisão, estarei com você. - E assim veio me dar um abraço. 
-Obrigada, de verdade, por tudo. - A abracei forte. 
-Não precisa agradecer, sabe disso. 
-Preciso sim e obrigada por essa boa notícia também. 

E assim, encerramos a consulta abrindo uma questão em minha cabeça e em meu coração, ter ou não ter outro filho? 

...

Quando cheguei em casa, nem procurei por Nicolle e os meninos, sabia que tinham saído, e sabia que era para eu estar com eles mas não cheguei a tempo, então, só me restava esperar. Subi, tomei um bom banho, fui a cozinha comer alguma coisa e nada deles chegarem, então, resolvi ir até a nossa pequena biblioteca pegar um livro para passar o tempo enquanto esperava. 

Porém, quando cheguei lá, foi impossível não notar aquele livor vermelho no canto da prateleira, estava quase escondido, mas naquele dia pareceu saltar aos meus olhos. Resolvi pegá-la, e passei os dedos por seu título escrito em letras douradas "Além Dessa Vida". Sim, aquele era o único exemplar da história de Lorenzo e Cecília que Nicolle tinha escrito, o único exemplar da história de nossas... vidas passadas, segundo as teorias de Vó Amélia. 

Instintivamente abri no primeiro capítulo, me sentei ali e comecei a lê-lo:

"Uma grande faixa branca pendurada entre dois postes na praça central indicava a chegada de um Novo Ano - "Feliz 1930" - e com isso a cidade estava em festa. A comemoração do ano novo tinha começado a noite anterior com a queima dos fogos e toda a tradição de sempre e prosseguia no primeiro dia do ano com o show dos aviões que cortariam os céus para entretenimento da população:

-Vem Cecília, quero ficar no alto da arquibancada pra ver os aviões! - a moça de cabelos avermelhados e sardas no rosto puxava a outra.
-Calma Bianca! - Reclamava sorrindo a que estava sendo puxada, de cabelos negros e vestido florido. 
E assim, sentaram-se no alto para ver o show dos aviões que foi incrível. Toda a cidade estava lá aglomerada pra vê-los e gritava a cada manobra arriscada que viam.

Ao final do show, a festa continuou em forma de quermesse, com barraquinhas de comida espalhadas por todos os lados e também muitas formas de entretenimento como tiro ao alvo e outros tipos de jogos que divertiam a todos.

E as duas moças também aproveitavam a festa, até que chegaram os rapazes, pilotos dos aviões para também participarem. Vestidos com seus macacões que os diferenciavam de todas as outras pessoas, acenavam e recebiam o carinho de todos que ali estavam:
-Olha Cecília, os pilotos! - Bianca mostrava para a amiga que estava de costas. 
E quando Cecília virou-se, de imediato, seus olhos encontraram os de um belo rapaz alto, um pouco forte, cabelos negros e pele branca. Ele por sua vez também estava com os olhos vidrados nela e assim se olharam por alguns instantes até sua amiga a tirar do transe:
-Ei menina, pelo menos disfarça ou ele vai achar que você é uma dessas moças fáceis que ele deve encontrar por ai. - Bianca a cutucou rindo.
-Ele é lindo... - Exclamou Cecília depois de baixar os olhos. 
-É verdade, tanto ele quanto os outros. - Bianca os olhou novamente de rabo de olho - Olha só, seu galã está vindo em nossa direção. 

E como Bianca havia falado, o rapaz estava mesmo chegando perto delas, pediu alguma coisa na barraquinha próxima e enquanto esperava puxou assunto com as moças:
-Estava pensando na possibilidade de ficar de vez por aqui, mas vendo essas moças tão bonitas agora não preciso pensar mais, vou ficar de vez. - O rapaz falou fazendo as meninas sorrirem mais sem olhá-lo nos olhos - Será que posso saber o nome das belezas? 
-Sou Bianca, está é minha amiga Cecília! - Bianca mais atirada, falou de vez. 
-Muito prazer Bianca! - o rapaz beijou a mão dela - Mas e você Cecília? Meu maior desejo nesse momento seria ouvir a sua voz. 
As bochechas de Cecília se avermelharam nesse momento, mas ela respondeu: - O que quer saber mais além do meu nome? - A mocinha respondeu com meio sorriso.
-Tem a voz tão doce quanto o rosto,bela Cecília. Mas respondendo, ainda quero saber muito sobre você então é justo que também saiba sobre mim, meu nome é Lorenzo Ferraro. - Agora sim ele beijou a mão de Cecília que ainda estava totalmente envergonhada. 
-Muito prazer Lorenzo! 

Olharam-se mais um pouco sem nada dizer e depois ouviu-se uma voz ao longe: 
-Ei, Lorenzo! Pare de jogar seu charme para cima das moças, não faz nem 10 minutos que estamos em terra. - Um de seus amigos também piloto zombava dele fazendo as moças sorrirem.
-Tenho que me juntar aos meus amigos garotas, mas espero vê-las mais vezes. - Ele acenou para as meninas. 
-Foi um prazer Lorenzo! - Bianca quem respondeu, Cecília ficou apenas a fitá-lo indo embora.
-Lorenzo Ferraro, será que ele é Italiano? - Bianca perguntava depois do rapaz estar muito distante - Não importa, ele gostou de você! 
-De mim?
-De mim é que não foi "Bela Cecília" - Bianca brincava com sotaque italiano. 
-Imagine, deve falar isso para todas por onde passa. - Cecília deu de ombros.
-Você também gostou dele!
-Eu Bianca? Só achei ele bonito ora e além do mais..."

Mas nesse momento ouvi o barulho do carro de Nicolle entrando na garagem, então, fechei o livro o coloquei no lugar e fui correndo matar a saudade.

[Continua]

Oiê ... 

Esta ai, um ano se passou (nem foi tanto tempo)

E já para abrir os trabalhos 

Nicolle esta pensando na possibilidade de um ovo herdeiro, 

o que acham? 

hahaha'

Como vocês queria, Ju e Vicente juntos, 

logo logo eles vão aparecer por ai! 

Muito aconteceu mas quase nada mudou... 

E para matar um pouquinho a saudade, 

Luan deu uma relembrada na história de Lorenzo e Cecília, 

justamente o dia em que eles se conheceram.

Mas e agora? 

O que vem por ai? 

Aguardem ;)

Beijokas

Mayara

@Luansmyway